Defendendo uma causa social
A construção do Museu de Arte de Jishou - em pleno centro urbano da capital da região autônoma de Xiangxi, na província de Hunan no centro sul da China - foi uma grande vitória para nós arquitetos e consequentemente, para toda a população local. Entretanto, o processo não foi nada simples. O projeto inicial proposto pela prefeitura previa a instalação do museu na região periférica da cidade, em uma nova área de expansão urbana. Jishou é uma cidade histórica de médio porte, com pouco mais de 300 mil habitantes e pouca disponibilidade de instituições culturais acessíveis à população. Como arquitetos que somos, decidimos questionar a decisão das autoridades e propor a relocação do projeto para a área central de Jishou, onde a construção do museu poderia contribuir de forma mais efetiva na regeneração do espaço urbano e na melhora da qualidade de vida das pessoas. O problema é que na região central não haviam terrenos grandes o suficiente para acolher o vasto programa do museu. Para complicar ainda mais as coisas, há um grande rio que atravessa todo o centro da cidade de Jishou e a divide ao meio. Pensando nisso, propusemos transformar o museu em uma ponte, ocupando um espaço "invisível" na cidade e aproveitando a oportunidade para reconectar as duas partes do centro separadas pelo rio Wanrong. Desta maneira, o Museu de Arte de Jishou não é apenas um mero edifício cultural, mas uma ponte que costura os espaços urbanos da cidade, inserindo a arte no cotidiano das pessoas.
Uma intervenção urbana
Ao longo dos últimos anos, projetos de instituições culturais na China tem se tornado sinônimo de edifícios autônomos, completamente deslocados do contexto urbano e social de suas cidades. Com o projeto do Museu de Arte de Jishou queríamos provar que uma outra abordagem é possível. O museu foi inserido no tecido urbano existente, encaixado entre os edifícios históricos que fazem frente ao rio Wanrong e integrado à vida cotidiana da cidade.
Reinterpretando a tradição
Pontes cobertas são típicas estruturas da região montanhosa da China. Chamadas de Fengyu Qiao, o que significa "ponte de vento e chuva", estas estruturas não são apenas utilizadas para cruzar rios ou vales, elas são construídas como uma espécie de espaço público onde os viajantes podem descansar ou comercializar os seus produtos. Não criamos nada de novo neste projeto, apenas re-interpretamos a nossa própria tradição construtiva, resgatando velhas formas e adaptando-as ao presente. A tipologia de ponte coberta foi atualizada para abrigar o programa do museu, mas sem no entanto perder sua função mais elementar, como um percurso de transposição do rio e um lugar de encontro e convívio entre as pessoas.
Um edifício ponte
A estrutura do museu é composta por duas pontes sobrepostas. O nível inferior é contido por duas treliças abertas de aço que definem o espaço da "rua coberta", permitindo a livre circulação dos pedestres e o aumento dos níveis do rio em épocas de cheia; o nível superior é configurado por duas lajes de concreto curvas moldadas in loco, resultando em dois espaços expositivos, um côncavo e outro convexo.
Além da estrutura da ponte que abriga os dois principais espaços explosivos do museu, as áreas técnicas, assim como o hall de acesso, a sala de chá e a parte administrativa encontram-se dentro das duas cabeceiras da ponte.
O Museu de Arte Jishou, inaugurado em Abril de 2019, é o resultado de uma iniciativa conjunta da prefeitura de Jishou e do artista local Huang Yongyu, responsável pela exposição inaugural do museu que será aberto ao público neste verão.